Pneumo: Disturbios de Ventilação
A síndrome de hipoventilação obesidade (SHO) é definida como hipercápnia diurna (PaCO2 > 45 mm Hg) num doente obeso (IMC > 30 kg / m2, frequentemente, > 40 kg / m2) sem outra explicação para a hipercapnia. A maioria dos doentes tem apneia obstrutiva de sono com eventos apneicos frequentes e hipersonolência diurna concomitantes. Outras características da SHO incluem dispneia, policitemia, acidose respiratória com alcalose metabólica compensatória, hipertensão pulmonar e cor pulmonale.
Vários mecanismos contribuem para a hipoventilação e hipercápnia. A obesidade reduz a mobilidade da parede torácica e a complacência pulmonar, o que resulta numa diminuição do volume corrente e da capacidade pulmonar total, com um aumento da resistência das vias aéreas. Deste modo, é necessário manter níveis altos de drive ventilatório para atingir a normocápnia. Eventualmente, o organismo torna-se incapaz de eliminar o excesso de CO2 devido à restrição persistente, com acumulação de CO2, de predomínio noturno, e acidose respiratória crónica. Como mecanismo compensatório, a excreção renal de bicarbonato diminui. Este fenómeno atenua a resposta ventilatória ao CO2 e contribui para a hipoventilação.
Em suma, os doentes com SHO "não conseguem respirar" (por excesso de peso e alteração da mecânica pulmonar) e “não têm estímulo para respirar” (por diminuição da quimiossensibilidade à hipercapnia com hipoventilação noturna persistente).
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As miopatias são causas comuns de hipoventilação crónica, surgindo por atrofia do músculo diafragmático. De facto, a médio-longo prazo, a ELA provoca atrofia do músculo diafragmático. No entanto, o mecanismo primário de lesão é o de neurodegeneração, com miopatia secundária à mesma. Os casos de miopatia primária que provocam hipoventilação crónica compreendem as distrofias musculares e miopatias inflamatórias idiopáticas (como a polimiosite e dermatomiosite).
Objetivo educacional: A hipoventilação crónica condiciona hipoxemia (inicialmente ligeira) associada a hipercapnia. A elevação do CO2 (acidose respiratória) provoca acidemia (diminuição de pH), que é compensada em poucos dias com elevação de bicarbonato (alcalose metabólica), rapidamente normalizando o valor de pH. As principais causas de hipoventilação crónica dividem-se em dois tipos - sobrecarga das vias aéreas/pulmão ou perda de drive/força respiratória.
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A apresentação clínica do doente sugere atelectasia pós-operatória. A atelectasia é o colapso lobar ou segmentar do pulmão que cursa com diminuição do volume pulmonar. É classificada pela fisiopatologia (obstrutiva ou não obstrutiva}, localização e dimensão do segmento pulmonar envolvido. A atelectasia pós-operatória geralmente ocorre por impactação de secreções, prolapso da língua durante o procedimento, edema das vias aéreas ou efeitos anestésicos residuais. A dor pós-operatória pode interferir na respiração profunda espontânea e na tosse, o que diminui a capacidade residual funcional e agrava o quadro. A atelectasia é mais comum após procedimentos abdominais e toracoabdominais. Grandes áreas de atelectasia podem causar incompatibilidade de ventilação de perfusão significativa, com hipoxemia e aumento do trabalho respiratório que se apresenta com dispneia e taquipneia. As manifestações geralmente têm início após o recobro, agravam nos primeiros dias e podem durar até 5 dias. Como compensação para a hipoxemia, os doentes geralmente hiperventilam e desenvolvem alcalose respiratória, com diminuição da PaCO2. O tromboembolismo pulmonar, também mais provável no pós-operatório, apresenta uma gasometria arterial semelhante.
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